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Apocalipse yesterday

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*José Renato Nalini

Estes tempos remetem ao catastrofismo. As leituras superficiais do livro do Apocalipse de João vêm a propósito. Quem não se impressionará com o capítulo 2, versículo 23: “Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras”.
A pandemia está matando filhos de todas as raças, estamentos e idades. Quais as obras de cada um? Existem aqueles que atendem aos enfermos, com risco da própria vida. Existem os que recomendam cuidados vitais, inteiramente factíveis. Também não faltam aqueles que incentivam a insensatez, desprezam a ciência, minimizam os efeitos dessa praga que mostrou à humanidade a sua pequenez.
O momento reclama sensatez e prudência. E muita coragem para enxergar a verdade e para mostrá-la aos que não têm condições de detectá-la. A ignorância é cúmplice da mortandade. Os que têm noção das coisas e vacilam, estes já são previamente condenados. O mesmo Apocalipse, 3-16, é contundente: “assim, porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”.
O ser humano considera-se racional. É preciso ter coerência com o mínimo de racionalidade nesta era obscurantista e sombria. O brasileiro lúcido é alguém que será julgado pela História, diante da opção que fizer diante do caos instaurado. Será inocente aquele que não brada contra o extermínio da natureza, a extinção da biodiversidade, a hostilidade gratuita a quem se preocupa com a nossa natureza, que é importante para todo o planeta e que está muito longe de se circunscrever a uma superada e anacrônica ideia de soberania?
Será inocente aquele que se recusa a aceitar a eficácia das vacinas e que ressuscita um vexaminoso episódio da vida nacional, quando da “guerra das vacinas” em 1918, momento em que Oswaldo Cruz foi crucificado pelos luminares da época, todos obtusos em relação à ciência?
O Apocalipse em relação a vários temas brasileiros não é para amanhã. Começou ontem. Seus efeitos nefastos já estão sendo sentidos. Ai de quem não se aperceber disso e se omitir. Se vier a sobreviver, suportará o veredito da História.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.

 

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