GUSTAVO CARNEIRO ARIANO
Escrevo este artigo em 05 de março de 2021, início de um mês que pode ficar registrado na história do país, mas de forma negativa. A explicação é revoltante: a cúpula do Ministério da Saúde prevê “tempestade perfeita”, com novas variantes, colapso hospitalar e falta de vacinas para Covid-19.
Uma sociedade lamarquista e terraplanista. Que prefere acreditar em soluções milagrosas, aposta na fé e na religião, nega a ciência, caça bruxas e idolatra “mitos”. Mas como chegamos a este ponto, onde foi que erramos ?
A constituição de 1988 buscou universalizar saúde e educação, indexando o orçamento destas pastas, visando garantir um país com menor índice de analfabetismo e com acesso ao SUS.
Hoje, os estados e o Distrito Federal precisam destinar 12% das receitas com impostos às ações de saúde. Os municípios têm de aplicar o equivalente a 15%. No caso da educação, o mínimo é de 25% das receitas com impostos para estados e municípios.
Corrupção, políticas de progressão continuada nas escolas, manipulação estatística de dados oficiais, banalização do ensino superior, investimentos em pesquisas de mestrado e doutorado para “inventar a roda”, enfim… foram inúmeros os erros cometidos na área da educação, que resultaram em uma sociedade ignorante, com valores morais questionáveis e com pseudo-especialistas de plantão.
Não é difícil encontrarmos engenheiros que não saibam calcular uma derivada, médicos e enfermeiros que erram o fator de diluição de um remédio, advogados que não sabem interpretar textos, contadores que não fazem contas sem uma calculadora, assistentes sociais liberalistas, administradores de grupos de WhatsApp, enfim… o bom e o ruim da democracia é que o congresso e o governo refletem, de forma nua e crua, a nossa sociedade.
Sabe-se que a cada 1 real investido em saneamento básico, economizamos 5 reais em despesas na saúde. Ora, então se desde 1988 estados e municípios tivessem investido parte dos 12 e 15% do orçamento, respectivamente, será que estaríamos com epidemias de dengue, entre outras inúmeras doenças acometendo nossa população ?
Saneamento e vacinas são ações preventivas, dever do Estado (com “E” maiúsculo, ou seja, municípios, estados, união). Desperdiçamos recursos nos últimos 33 anos e, agora, inauguramos uma nova era: o negacionismo.
A girafa tem o pescoço longo de tanto tentar comer a folha da árvore alta. A terra é o centro do universo e plana. Vacina não funciona. Covid não mata tanto assim. Máscara é frescura, não adianta. Cloroquina e azitromicina, ou talvez um jamel ou um “rabo de galo” é infalível. Se você acredita em uma destas asneiras acima, sugiro que não vote nas próximas eleições, para o bem geral da nação.
Daqui 30 dias ou menos, infelizmente, escreverei aqui a respeito da taxa de 3000 mortes/dia no Brasil, por covid-19… a doença que destrói sociedades ignorantes. Como diz a música do Rappa: “Um chá pra curar esta azia, um bom chá pra curar esta azia. Todas as ciências, de baixa tecnologia. Todas as cores escondidas, nas nuvens da rotina.”