Uma menina de quatro anos morreu em decorrência de picada de escorpião na noite deste sábado (16) na Santa Casa de Araçatuba. O acidente aconteceu na noite de sexta-feira (15), quando a pequena Silvia Cristina Pereira da Silva, que estava com a mãe, saia de uma igreja próxima à Rua dos Fundadores, na zona leste de Araçatuba. A picada foi no pé da criança e ocorreu na rua. Nesta segunda-feira (18), Secretaria Municipal de Saúde e Santa Casa convocaram coletiva de imprensa para prestar informações sobre o ocorrido. Este é o segundo óbito envolvendo picada de escorpião em crianças em menos de três dias em Araçatuba, sendo que o primeiro é tratado como suspeita e aguarda laudo do IML para apontar a causa da morte.
Após a picada, a mãe levou a filha para o Pronto Socorro do Santana, onde foi atendida imediatamente para realização de diagnóstico de acidente escorpiônico. A equipe solicitou a transferência para a Santa Casa por conta da gravidade que foi constatada, sendo que a entrada se deu às 22h do dia 15. A menina foi a óbito no dia 16 às 22h23, pouco mais de 24 horas após a picada. O diretor clínico da Santa Casa, Sérgio doutor Sérgio Smolentzov, explicou que a rápida evolução do quadro acontece por uma série de fatores.
“A quantidade de veneno do escorpião determina a gravidade; se ele já picou alguém e picar outra pessoa em seguida, não vai ter a mesma repercussão. Mas a quantidade de veneno presente em uma criança com 10 quilos é gigantesca em proporção a uma pessoa adulta com 80 quilos”, disse. O diretor informou que no caso das duas crianças foi aplicada a dose de soro antiescorpiônico para situações graves, que são cinco ampolas. “Trata-se de uma lesão pequena, mas intensamente dolorosa, e às vezes a criança demora para avisar, a família não vê o que aconteceu, e quando percebe o quadro já está evoluindo”, disse.
No caso de Silvia, Smolentzov disse que a menina sofreu parada cardíaca e passou por procedimento de ressuscitação, mas não resistiu. “O veneno atinge o mecanismo elétrico do coração, além de provocar sudorese, taquicardia, falta de ar e outros sintomas, levando a óbito por insuficiência respiratória ou arritmia cardíaca”, explica. As duas crianças foram diretamente encaminhadas para a UTI Neonatal quando deram entrada na Santa Casa.
CASOS
De acordo com a secretária de Saúde, Carmem Guariente, os acidentes envolvendo escorpiões em Araçatuba acontecem em todas as regiões da cidade, sendo que a predominância de reclamações está na zona sul, em bairros como Morada dos Nobres e Jussara. Em 2016 o município registrou 596 reclamações de moradores, que entraram em contato com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), por conta de presença de escorpião em domicílio. A secretária disse que todas as ocorrências foram atendidas. Em 2017 já foram 368 reclamações registradas e atendidas pelas duas equipes do CCZ que atuam no combate ao animal peçonhento.
Já as notificações de acidentes com escorpiões em 2016 foram de 348 durante o ano todo; entre janeiro e setembro foram 242 casos, sendo que no mesmo período deste ano já foram registrados 259 casos. Neste ano, a maioria dos casos ocorreu em pessoas com idade entre 55 e 64 anos; com menores de um ano foram 5 casos e com idade entre um e quatro anos foram 7 casos notificados.
PREVENÇÃO
As equipes do CCZ realizam ações rotineiras de visitas domiciliares dos Agentes de Controle de Endemias, que orientam a população sobre como prevenir domesticamente contra escorpiões, dengue, leishmaniose e outros. As equipes também fazem atendimento às reclamações feitas por telefone. A secretária de Saúde também destacou o trabalho feito pelo Núcleo de Educação e Saúde, que realiza orientações em escolas, imóveis públicos e outros, capacitando as pessoas para realizarem semanalmente o trabalho de inspeção e eliminação de criadouros.
“O que precisamos é que essas orientações se façam acontecer pela população. Esses dois casos trágicos em um curto espaço de tempo nos deixam muito chocados, mas temos que continuar e implementar esse trabalho, que não depende só do setor público, mas também de toda a população”, desabafou a secretária.
Os casos que são atendidos pela Santa Casa são aqueles em que o paciente já está apresentando os sintomas da picada. O hospital registrou 33 atendimentos neste ano, com predominância entre julho e agosto, sendo que os únicos óbitos foram os das duas crianças.
FERNANDO VERGA – Araçatuba