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A Ciência e nosso Cotidiano

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Rodrigo Andolfato

 

Primeiramente, para aqueles que não sabem, eu sou engenheiro de formação. Isso muitos já sabem, quer pela empresa que tenho, quer pelo meu cargo enquanto engenheiro civil na Secretaria de Obras em Araçatuba. O que muitos não sabem é do meu lado cientista. Sim pessoal. Eu antes de sair para vida profissional, fiquei onze anos trabalhando como pesquisador científico, tanto no programa de pós-graduação de Ilha Solteira, da Unesp, quanto no programa de pós-graduação da USP de São Carlos. Fato é que escrevi isto não para me promover, ou ensejar que sou o “sabe-tudo”. Muito longe disso! Todos que me conhecem bem, sabem que, justamente por ter estudado tanto, tenho a certeza de que muito pouco eu sei.

Mas isso não se trata apenas de ser humilde ou não. Fato é que ciência se faz justamente no ato de perguntar mais que responder. E não só disso. Em ciência temos a certeza de que a estatística se trata da matemática das probabilidades e, portanto, das incertezas que cada afirmativa, ou tese, carregam em si.

Se não bastasse as incertezas de um conjunto de dados, dado pela própria inconstância dos fatos e da natureza, ainda existe a questão das medições. Medições estas, as quais sabemos, dentro da ciência, são sempre relativas, e em muitos casos dependentes do leitor que as leem.

Para piorar ainda a certeza das coisas, todo bom cientista sabe que os instrumentos de medidas apresentam incertezas, e mais, precisam ser calibrados por órgão fiscalizador para que tais medidas sejam válidas e possam trazer respaldo técnico-científico. E assim seguimos com muitas coisas que nos trazem mais dúvidas na ciência que respostas efetivamente. Ah! E para quem não sabe, eu tive treinamento na REMESP, Rede Metrológica de São Paulo, para me tornar apto a certificar Laboratórios quanto a correção do uso de equipamentos metrológicos. Obviamente que não segui esta carreira, e que fiz o curso simplesmente para obter conhecimento sobre metrologia. Mas fato é que, hoje em dia, vejo muitos laboratórios privados, afirmando isso ou aquilo, sem ter um embasamento efetivo de medidas estatísticas e seus erros, delas derivadas.

Escrevi tudo isso, para que a população de Araçatuba e de toda região, passem a se questionar mais do que simplesmente acreditar em conversa de políticos ou burocratas. Por esses dias aconteceram dois acidentes num cruzamento da Avenida José Teles de Menezes com a Avenida Abrão Buchalla. Eu fui até a localidade tomar ciência junto ao Secretário de Mobilidade Urbana, o qual não é engenheiro, nem especialista no assunto, mas que sempre teve em mim um admirador por ser um homem cuja integridade nunca me havia sido questionada.

Mas como eu havia visto um vídeo de seu Assessor Executivo, afirmando que eles haviam feito uma interferência no transito para se estudar o que deveria ser feito ali, me vi na obrigação de conversar com ele e alertá-lo para o fato que tal procedimento não faria sentido efetivamente. “Não se faz estudo de tráfego alterando sua condição a ser estudada.” – afirmei ao nobre colega. No que ele prontamente respondeu, que ele precisava fazer algo. Eu concordei com ele que uma intervenção no local era interessante para diminuir os ânimos, mas que não, para se fazer estudos. E que ali, não seria necessário estudo algum, bastava colocar um conjunto de Sinaleiros com uso normal, tipo dois tempos, com proibição de conversão a esquerda por todos. Assim como é feito, por exemplo, no cruzamento da Avenida Paulista com a Avenida Brasília em frente ao Bola Sete. Ou então que se instalasse um sinaleiro quatro tempos igual ao que existe no cruzamento da Odorindo Perenha com a própria José Teles de Menezes, e deste modo, permitindo inclusive a possibilidade da conversão a esquerda.

Fato é que, o secretário me respondeu que ali havia um erro de projeto. Que o correto ali seria a existência de uma rotatória. Como engenheiro, e sabendo que a Prefeitura Municipal jamais faria algo errado, assim como não o fez no cruzamento da José Teles de Menezes com a Odorindo, no cruzamento do Rondon, questionei-o sobre a simples questão de se colocar um sinaleiro. Ao que ele tentou me inferir que precisava de um estudo do CONTRAN para colocação de tal sinaleiro. Ao que respondi: “Igual ao estudo feito na Fundadores?” (Eu imaginava que não havia estudo algum, uma vez que tudo foi feito numa correria danada para silenciar uma massa de descontentes). Minha surpresa, é que eu estava certo. O Secretário me respondeu com a seguinte afirmativa: “Você sabia que lá precisava de um semáforo!”. Fiquei estupefato!

Como assim ele sabia que eu sabia? Como assim em algum lugar pode se colocar sinaleiro, sem estudos ou autorização do CONTRAN, e em outro não pode? Como assim afirmar sem uma base legal que num cruzamento de avenidas é obrigatório o uso de rotatórias? Como assim afirmar que há erro de projeto de um loteamento, o qual foi aprovado e recebido pela própria municipalidade?

O problema meus caros leitores, é que a Ciência é feita de responder as perguntas de forma desapaixonada! E, portanto, antes de você torcer pelo Rodrigo (pôr o sinaleiro) ou pela falsa tese da obrigatoriedade de uma rotatória, tente responder o seguinte: Será que na rotatória da Pompeu com a Saudade já não morreu gente? Será que se ali houvesse um cruzamento com sinaleiro, vidas não poderiam ter sido salvas? Será que rotatórias de fato resolvem o verdadeiro problema, que é a falta de educação no trânsito? Aguardo vossas respostas, caros leitores. Mas acima de tudo, questionem sempre as afirmativas de quem quer que seja, principalmente se for de políticos e burocratas.

 

Rodrigo Andolfato é empresário, membro do Instituto Liberal da Alta Noroeste e idealizador do movimento #ARACATUBADOBEM

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