O equilíbrio ecológico é quando a natureza está funcionando normalmente, quando determinadas espécies de animais são controladas por seus inimigos naturais. Quando falta o inimigo natural, há o desequilíbrio e a explosão populacional, com todas as consequências. Na região há duas situação distintas. Primeiro, a capivara, que é nativa, mas os inimigos naturais (onça, jacaré e sucuri) não estão tão presentes. Houve a explosão populacional. O segundo, trata-se de espécie invasora, o javali e o javaporvo (resultado do cruzamento do javali com o porco doméstico). Nos dois casos há preocupações econômicas, sanitárias e ambientais. Por isso, especialistas recomendam a caça como medida de controle populacional.
Desde 2012 os produtores rurais começaram a alertar para os riscos do javali e javaporco. Na região de Araçatuba os primeiros registros foram feitos na Água Limpa, Prata, Pratinha. Porém, rapidamente a espécie invasora, sem inimigo natural e extremamente agressiva e voraz, passou a atingir outras regiões produtoras e municípios, como Guararapes, Bento de Abreu, Rubiácea, Bilac, Penápolis, Birigui e outros municípios. O que há seis anos era um risco. Hoje é um grande problema, que causa prejuízos e temores.
O vice-presidente da Associação de Produtores da Água Limpa, Jair Trevisan, 56 anos, natural do próprio bairro e que há 32 anos iniciou a produção de mandioca e orgulha-se de ter introduzido a venda de mandioca descascada no mercado local e regional, mostra-se desolado com a situação. Trevisan investiu alto na propriedade com cerca elétrica para impedir a entrada dos javalis. Não segurou. Como já chegou a perder praticamente toda a lavoura, ele decidiu diversificar a produção com banana e poncan. Isso não significa isso que está livre, pois o javali ataca tudo que vê pela frente, mas tem preferência pelo milho, mandioca e cana-de-açúcar. “Quem proíbe a caça do javali nunca plantou um pé de mandioca ou de milho para saber o preço”, disse Jair Trevisan.
No início de julho a Assembleia Legislativa aprovou projeto do deputado Ricardo Tripoli (PV) e o governador Márcio França sancionou a lei que proíbe a caça. A reação foi imediata pois especialistas questionaram a decisão sem qualquer amparo científico. Além disso, o javali, que é invasor, ameaça as espécies naturais.
“Javalis vêm expandindo sua distribuição no Brasil e só em São Paulo já afetam mais de 320 municípios — em 2013 eram 64! O abate de espécies nocivas é amparado desde 1967 pelas leis federais de proteção à fauna (5197/67) e dos crimes ambientais de 1998 (9605/98)”, disseram Felipe Pedrosa (ecólogo, doutorando em Ecologia e Biodiversidade), Marcelo Osório Wallau (engenheiro agrônomo, doutor em Zootecnia, pesquisador e extensionista da Universidade da Flórida e membro da Equipe Javali no Pampa) e Clarissa Alves da Rosa (ecóloga, doutora em Ecologia Aplicada), em artigo postado no portal http://www.oeco.org.br.
Os especialistas foram além. ” A lei que o Estado de São Paulo acaba de promulgar não só vai contra a estratégia nacional de controle dos javalis, ameaçando acordos internacionais de conservação e comércio exterior, como expõe a sociedade ao perigo de estar submetida a fanfarrões que impõem decisões unilaterais aparentemente sem o menor conhecimento de causa.”
ROTINA
A caça ao javali tornou-se rotina e a prática é vista como medida necessária para controlar a espécie. Porém, é quase impossível fazer como determina as normas estabelecidas pelo Ibama e por uma resolução de órgãos do governo paulista. São muitos documentos e exigências. A burocracia não acompanha a rapidez da reprodução da espécie e a capacidade de destruição. Com isso, os produtores estão desolados. Alguns admitem que não há como cumprir a legisslação ao pé da letra. O jeito é caçar, mesmo com risco de autuação.
CAPIVARA
Outro animal que está preocupando criadores é a capivara. Com poucos inimigos naturais, o maior roedor do Brasil está aumentando a população de forma preocupante. O secretário de Meio Ambiente de Araçatuba, Petrônio Pereira Lima admite que a caça é uma forma de controle de determinada espécie. Além dos danos à agropecuária, Petrônio cita o risco à saúde, pois a capivara hospeda o carrapato estrela, que transmite a febre maculosa. Na área urbana de Araçatuba há vários pontos com presença de capivara.